ENTREVISTA IGREJA VIVA: "ESTAMOS SEMPRE A CRESCER"

 

Mais um ano letivo terminado, o que significa que a pastoral universitária pode descansar e respirar para preparar mais um ano. Como é que foi fazer pastoral junto de um público tão exigente como os jovens num ano em que tudo foi um obstáculo por causa da pandemia? O Cónego Eduardo Duque explica, com a ajuda da Mariana Macedo e do António Rocha, jovens que fazem parte da pastoral.



[Igreja Viva] A pastoral universitária é uma pastoral mais exigente que outras?

[Cón. Eduardo Duque] Eu creio que todas as pastorais são exigentes se, porventura, os seus coordenadores lhe atribuírem esse grau de exigência e se trabalharem para que essa pastoral, de facto, se desenvolva. Nesse sentido, não creio que esta pastoral seja mais exigente do que as outras. Creio que sim, para nós, tem sido muito exigente, porque nos temos dedicado, ao longo destes últimos 14 anos, de corpo e alma a esta pastoral, e por isso é que acreditamos que ela tem tido os frutos que tem tido, reconhecidos pela sociedade exatamente pela dedicação que nós lhe temos atribuído.

[Igreja Viva] Como tem sido levar a cabo esta pastoral nos últimos tempos?

[Cón. Eduardo Duque] Tem sido muito interessante. Nunca pensei que fosse tão interessante. Porque, desde o início, nós demos a liberdade à coordenação, a cada coordenador para, conjuntamente com as equipas que eles coordenam, desenvolverem o melhor possível a sua criatividade junto dos públicos específicos com quem eles trabalham – públicos específicos porque todos nós trabalhamos com universitários, mas depois, entre os universitários, há vários projetos. Aquilo que lhes pedimos, quando despontou a pandemia, foi que cada coordenador desenvolvesse criativamente o seu plano, o seu projeto, de forma a que ninguém ficasse para trás. 

Isso levou a desenvolvermos muitos projetos para além daqueles que inicialmente nós tínhamos pensado e que estavam como antes da pandemia. Nós tivemos, por exemplo, uma atividade que foi espetacular, que foram os podcasts – Dois Minutos de Pausa, Minutos Quaresmais e o Advento no Momento. Estes podcasts ajudaram imenso a que cada estudante, à distância, pudesse estar connosco, pudesse rezar através de textos, áudios que os próprios universitários trabalhavam. 

Tivemos também uma iniciativa muito interessante, a meu ver, e que teve um impacto muito curioso junto dos estudantes, que foi pedir a vários universitários que escrevessem textos para que pudessem dizer como estavam a viver o tempo da pandemia, como é que um estudante confinado estava a viver o tempo da pandemia. Isso resultou não só num produto final que foi muito interessante para vários outros estudantes, mas também resultou como um momento de introspeção, de análise para aquele que estava a escrever. Quem lê aqueles textos percebe que estão carregados de pausa, de tempo lento, estão carregados de momentos de introspeção que os estudantes tiveram oportunidade de pôr em escrito.

Também tivemos este ano, pela primeira vez, um projeto que nós pensávamos que pudesse ter contornos muito amplos mas que, exatamente por causa da pandemia, não teve. O Rumos seria um projeto para ter uma grande amplitude, porque envolvia passar uma semana como a Missão País, numa paróquia em que os estudantes pudessem estar e fazer missão. Não foi possível realizar-se como gostaríamos, mas vai ser realizada em formato um pouco reduzido. 

Ou seja, não obstante todos os projetos que temos na pastoral para uma pastoral presencial, nós conseguimos criar, a meu ver, momentos que levaram a uma aproximação dos estudantes. Temos vivido momentos muito interessantes – já tivemos a reunião de avaliação e foi muito interessante ouvir. Foi talvez dos anos mais criativos. Foi um ano e meio de muita, muita criatividade. Nesse aspeto, foi extraordinário.

[Igreja Viva] Apesar tudo o que tem acontecido à volta, diria então que estes últimos tempos representam um ponto alto na Pastoral Universitária?

[Cón. Eduardo Duque] Eu diria que sim, que representa um momento de muita criatividade da parte dos estudantes, de muita audácia. Foram momentos em que, creio, os coordenadores se ultrapassaram a eles próprios porque conseguiram cativar outros jovens. Nós funcionamos numa equipa muito coesa e depois cada coordenador trabalha com várias outras pessoas.

Cada coordenador geral pode ter outros coordenadores que, por sua vez, trabalham com outras equipas. Nós percebemos que houve grande coesão nos grupos, que a coisa correu muito bem, que foi um ano muito intenso, porque estivemos confinados, depois tivemos aqueles momentos de certa forma presenciais mas com muita distância uns dos outros, ultimamente já um bocadinho mais próximos, e na reunião geral, a ideia que perpassou por todos os grupos é que, apesar de ser um ano profundamente atípico, um ano e meio profundamente atípico, foi um ano de grande ânimo, em que as pessoas não desanimaram. Os jovens não desanimaram.

[Igreja Viva] Mariana e António, o que vos levou a gastar parte do vosso tempo livre para fazer parte da Pastoral Universitária?

[António Rocha] Uma das maiores riquezas da Pastoral Universitária é permitir aos jovens universitários participar em atividades de voluntariado, no coro, em tudo. Quando entrei na Pastoral Universitária, como residente, fiquei fascinado com um dos projetos que me apresentaram, o Projeto Sementes, que consiste em fazer um caminho durante o ano – com reuniões presenciais, fins-de-semana de retiro e de voluntariado, e culmina com uma missão de um mês em África. Eu fiquei apaixonado pelo Projeto e decidi participar. A partir desse momento, aquele bichinho que eu tinha de voluntariado e de ajuda ao próximo foi crescendo e foi desenvolvendo-se, e tenho participado em todos os projetos possíveis.

[Mariana Macedo] Eu já entrei na Pastoral há alguns anos, vim para Braga há cinco anos, e na altura também tomei conhecimento do Projeto Sementes e foi através dele que entrei na Pastoral. Aquilo que me fez entrar e que me faz continuar a estar presente é um bocadinho o sentimento de pertença a uma casa, a uma família, porque a Pastoral é uma oportunidade de conhecer e de criar relações com pessoas que acho que são muito bonitas, relações de amizade que eu valorizo imenso. Ao longo destes anos houve um projeto no qual eu estive mais envolvida, que é o “(Des)envolve-te”, que também é um projeto de voluntariado, mas local, em que o objetivo é proporcionar aos universitários de fazer voluntariado em instituições aqui de Braga e de Guimarães.

No fundo, a ideia é dar um bocado mais do seu tempo, de saírem de si próprios e irem ao encontro do outro, e de terem contacto com realidades diferentes, a que não estamos habituados no nosso dia-a-dia, respondendo ao desafio do Papa Francisco para nos envolvermos enquanto pessoas – é isso que nos marca, que marca o nosso percurso académico, a nossa vida e que nos transforma enquanto pessoas. É o sentimento que estamos sempre a crescer que me faz continuar aqui, com muito gosto.

[Igreja Viva] António, como é residir no Centro Pastoral Universitário?

[António Rocha] Eu lembro-me que nos primeiros tempos...Estava habituado a viver com os pais, a família, e no início achei engraçado o choque que tive, porque os residentes acabam por se tornar família. Uma das coisas que aprendi ao longo destes três anos foi saber lidar com os diferentes tipos de pessoas, de rotinas, porque vimos todos de sítios diferentes, temos todos diferentes vivências e uma das vantagens é podermos aprender com pessoas que não conhecíamos. Saber que aquela pessoa fica uma bocado mais nervosa quando acorda, ou que quando alguém tem um teste fica um bocado mais ansioso, e começarmos a conhecer as pessoas e as suas dúvidas e inseguranças é umas das vantagens. A missa semanal com o Padre Duque é um momento alto na semana porque nos permite acalmar, porque nos permite pensar e refletir sobre a semana, e ganhamos energia para o resto da semana.

[Igreja Viva] Mariana, és coordenadora do projeto de voluntariado “(Des)envolve-te”, já explicaste em que consiste. Os projetos de voluntariado costumam ter bastante adesão entre os jovens. Também é assim com o “(Des)Envolve-te”?

[Mariana Macedo] O “(Des)envolve-te” é um projeto que costuma ter muita adesão por parte dos universitários, no ano passado éramos cerca de 100 voluntários neste projeto. Naturalmente, este ano as coisas tiveram que ser reformuladas e também sentimos que houve menos voluntários a inscreverem-se e a participar, até porque houve menos aulas presenciais, este ano teve um sistema misto e havia gente que estava menos tempo em Braga. No entanto, os que se juntaram vieram com muita vontade e muito ânimo – no início tínhamos um pouco de receio sobre como iam correr as coisas, tivemos que passar de voluntariado presencial para atividades online, o que torna as coisas um pouco mais distantes, e não sabíamos o que íamos conseguir.

As pessoas que se juntaram a nós foram excecionais e as coisas correram muito bem, o feedback foi excelente, foi mesmo muito bom, portanto foi um ano em que, mesmo tendo menos procura, conseguimos fazer algo muito positivo.

In Igreja Viva >> 8/7/2021

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