PROJETO SEMENTES'22 | DIÁRIO DE MISSÃO 4

 

A ilha de Santiago está rodeada por pessoas felizes, humildes e muito amáveis. |Seja bem feliz|, foi das primeiras músicas que cantamos com a comunidade desta ilha. Tanto calor humano, tanto carinho, tanta sensibilidade. Aqui, as pessoas vivem numa verdadeira fraternidade. São a parte de um todo que se funda na sua própria cultura, nos seus próprios valores, pressupondo a aceitação e a diversidade de todos aqueles que aqui pousam.

A experiência tem sido muito desafiante. O grupo organiza atividades com a comunidade de Loura por forma a favorecer a sua integração. Relativamente à rotina, a parte da manhã tem sido dedicada aos rastreios de saúde, indo de porta em porta para medir a tensão arterial, diabetes, realizar curativos, limpeza de feridas e aconselhar sobre dúvidas que a população possa ter. Foi possível, numa semana, atender a todas as casas da comunidade, sendo recebidos sempre com um grande sorriso e um ótimo acolhimento. Visto que esta atividade é realizada com a população mais sénior, por vezes, a linguagem pode ser uma barreira, no entanto, foi sempre ultrapassada com o auxílio de jovens, que atendem aos pedidos de tradução. Nos últimos dias, foi-nos possível, inclusive, realizar alguma manutenção na unidade de saúde da localidade onde nos encontramos, por forma a receber com maior facilidade as pessoas.

Durante a parte da tarde, e após algum tempo de descanso do grupo, prossegue-se para as atividades com as crianças e os jovens da aldeia. Todos os dias são enfrentados novos desafios com as crianças, que nos absorvem muito tempo e energia, dada a própria energia que elas têm. Entre algumas atividades, destacam-se o torneio de salto à corda, com um chocolate como prémio, cantar, dançar, pinturas ou simplesmente conversar. Já com uns jovens, que pertencem a uma faixa etária superior, são realizadas para além das atividades anteriormente mencionadas, um curso de suporte básico de vida e um torneio de futebol. Todas estas experiências tem-se revelado uma grande aprendizagem.

Os adultos, e uma boa parte dos jovens, passam as suas manhãs, por norma, na sementeira, isto é, a semear milho, por forma a contribuir para a sua subsistência. 

Apesar da rotina que vivemos, nunca perdemos o entusiasmo inicial, sendo sempre surpreendidos com convites espontâneos que as pessoas nos fazem para estarmos juntos. Uns dias em Santana, outros em São João Batista, mas sempre com missa incluída que se tem revelado uma parte central na união das comunidades. 

Uma das grandes curiosidades desta localidade prende-se com o seu próprio clima. Bastante diferente do que temos experienciado nas outras comunidades, que podem ser descritas como solarengas, quentes e abafadas. Loura, devido à sua altitude, é bastante mais chuvosa e enevoada, não deixando de brilhar e aquecer nas horas de maior calor do dia. É um clima típico de uma ilha tropical. É de ressalvar, no entanto, que esta chuva é insuficiente para combater a seca que se faz sentir no país.

Aproveitamos um dia livre para conhecer melhor a ilha, tendo a oportunidade de visitar de forma mais pormenorizada a Praia, capital de Cabo Verde. Nesta, o mercado de Sucupira destaca-se pela sua variedade de oferta, tanto em termos têxtil e alimentar, como de serviços de estética e coisas de todo o mundo, em apenas alguns metros quadrados. Também visitamos o farol de D. Maria Pia e conhecemos a sua fascinante história de proteção das embarcações marítimas da rochosa costa. Por fim, acabamos na praia “Quebra Canela”, onde a água se encontrava a uma temperatura bastante agradável e a comunidade da Praia aproveitava o dia quente.

Finalmente, não queremos deixar de comentar a riqueza da gastronomia desta ilha, dentre alguns iguarias e práticos típicos destacam-se a cachupa, o xerém, as mangas, papaias, bananas, cocos e as azedinhas, todos estes são absolutamente deliciosos. 

Impulsionados pela confiança depositada em Cristo, decidimos partir na aventura que nos foi colocada pelo Projeto Sementes, sendo precisamente esse sentimento que nos impele a não desistir e a manter-nos firmes perante as dificuldades. É precisamente dessa forma que pretendemos continuar o caminho para as semanas que nos esperam, continuando a olhar para esta aventura de coração aberto para ir ao encontro do outro e/ou, de alguma forma, para cuidar, para amar e para sorrir.

Fátima Zorro, doutoranda em Engenharia de Materiais (UMinho) 

In Diário do Minho (28/07/2022)

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