PROJETO SEMENTES'22 | DIÁRIO DE MISSÃO 6

No início desta missão, num dos momentos de reflexão, a Beatriz (uma das coordenadoras do grupo) descreveu-nos profeticamente os vários desafios que poderíamos sentir em cada semana. Na primeira semana, o maior desafio seria a adaptação ao espaço e à comunidade (como foi o caso). O desafio especulado para a segunda semana tinha mais a ver com a relação entre os vários elementos do grupo e a forma como navegaríamos os sentimentos de saudade e de ansiedade, sentidos de várias formas e intensidades pelos elementos do grupo.

“Tiro e queda”, é a expressão idiomática adequada para descrever a exatidão da previsão feita pela Beatriz. As diferenças entre todos tornaram-se mais claras e visíveis ao longo desta segunda semana, talvez agudizadas pelo calor e cansaço sentidos. Momentos de maior recolhimento do grupo foram essenciais para restabelecer o equilíbrio e a união. O momento mais importante foi, talvez, a caminhada até à Cidade Velha, que fica a escassos quilómetros da comunidade de Salineiro. Em plena concordância com a paisagem, senti que o grupo, tal como o mar, a pouco e pouco, encontrou o seu ritmo e que, tal como as montanhas, se fixou no momento e na missão

Redirecionando agora um pouco esta partilha, gostaria de destacar um outro momento que tornou, até agora, a nossa missão um pouco mais rica. Esse momento foi a visita à fazenda da Boa Esperança, proposta pelo Pe. Joaquim (pároco que nos tem acompanhado e orientado). No final da última semana (quinta- -feira, dia 21) fomos visitar esta fazenda, que fica um pouco deslocada da comunidade onde estamos inseridos, e que tem como propósito permitir a jovens e adultos do sexo masculino recuperarem de situações de dependências de álcool e drogas.

O Pe. Ronaldo, original do Brasil e pessoa responsável pela fazenda, vive há cinco anos na ilha de Santiago e, com a ajuda de mais quatro missionários, criou este espaço que permitiu a mais de uma centena de homens recuperar das suas dependências. “Jesus veio à terra para curar” é um dos lemas da fazenda que tem como principais pilares: o trabalho, a vivência em comunidade e a espiritualidade. Aprendemos, com esta visita que um pouco de entreajuda, fé e resiliência podem constituir um caminho para a transformação e para a cura.

Temos vindo a conhecer cada vez melhor a comunidade de Salineiro que não nos deixa de surpreender pela sua morabeza (expressão cabo-verdiana que indica a qualidade de quem é amável e gentil). Embora ainda não saibamos o crioulo, não sentimos que isso seja um entrave para a comunicação com a comunidade porque no fundo o que queremos transmitir pode ser feito e não falado. 

Raquel Madureira, Engenharia Física (UMinho)

In Diário do Minho (01/08/2022)

Comentários