PROJETO SEMENTES'22 | DIÁRIO DE MISSÃO 8

Passadas já três semanas da nossa missão, esta experiência extasiante já toma uma relevância deveras acentuada nas nossas pequeninas vidas, onde a consonância entre o trabalho árduo de cada elemento do grupo se conjuga com a beleza extraordinária das singularidades presentes em cada pessoa e lugar desta comunidade que nos acolheu de um modo tão gratificante e único. 

Uma rotina foi-se instalando ao longo deste período e, de facto, esta acaba por trazer uma organização de horários e de tarefas que vamos percebendo que nem sempre é exequível, pois todos os dias são-nos apresentadas adversidades que nos impelem a agir de forma versátil e atuando sempre em equipa, para que desta forma consigamos ultrapassar e eliminar os desafios que surgem tanto nas atividades na escola como no trabalho no hospital. Um dos exemplos que ressalta constantemente é o clima inconstante. Neste momento estamos na época de chuva na Guiné-Bissau, que é um país com um clima tropical característico, pelo que durante o dia há alterações climáticas repentinas e intensas que nos obrigam a mudar a nossa rotina e a repensar o nosso trabalho, pois interfere na vida da comunidade. 

A comunidade de Cumura é diversificada e em cada bairro consegue-se apreender conhecimentos diferentes a partir da variedade das pessoas que os habitam. Passando pelo bairro de Santa Catarina até ao de Califórnia e atravessando transversalmente de Nagé até Tamara, Cumura é enorme e as tabancas perdem-se na vista do observador, que tanto quer absorver esta dimensão que se apercebe de que o horizonte é inalcançável e que de entre uma ruela se ramificam muitas outras, tornando esta paisagem especialmente bela e inesquecível. 

São várias as pessoas que têm marcado o nosso percurso, ajudando- -nos na nossa integração diária com diferentes atividades, desde as aulas de crioulo, às idas ao quiosque para jogar “bonecos” (matraquilhos), à inserção no grupo que dirige o torneio de futebol local, às idas ao coro da paróquia que terminam sempre em folia e danças africanas tradicionais. 

De entre toda a energia presente no dia-a-dia, quem nos absorve mais ADP’s são as crianças, que com toda o vigor e alegria, quando nos veem, lançam-se fugazmente para os nossos braços, gritando os nossos nomes, é um sentimento verdadeiramente incrível. Apesar de traquinas e irrequietos é a eles que o grupo dispensa mais tempo para realizar as atividades tanto de cariz lúdico como pedagógico. Por exemplo, esta semana dinamizamos uma aula de geografia que consistiu em aprender o nome dos países e conhecer as bandeiras do continente africano, a visualização de vídeos relativos à aprendizagem do corpo humano, salientando-se ainda o dia das artes plásticas onde despertamos a curiosidade de muitas crianças pelo desenvolvimento da motricidade manual individual. 

Para além das crianças, há outros grupos a solicitar a nossa participação. Na passada quinta-feira, o grupo foi convidado a elaborar uma apresentação na Universidade Católica da Guiné-Bissau, com base nos nossos conhecimentos de Eletrónica Médica de modo a alargar os horizontes dos alunos do curso de Informática, que, com tanta vivacidade, demonstraram querer aprender e evoluir nos seus conhecimentos. Aproveito ainda para deixar um apelo e um voto de força a todos os estudantes, que, em situações de dificuldade e na prevalência de escassez de material no seu percurso, não deixam de lutar incansavelmente por um futuro melhor. São verdadeiramente um exemplo. 

O grupo está no seu expoente de dinamismo, com vontade de enfrentar mais uma semana intensa e cheia de emoção. Ansiamos a chegada a Portugal, mas por outro lado, transbordamos de amor e empatia por esta comunidade que, de braços abertos, nos mostrou o verdadeiro significado do ‘amor ao próximo’, deixando um sentimento de não querer que esta experiência termine. 

Manuel Matos, Mestrado integrado em Engenharia Biomédica (UMinho)

In Diário do Minho (6/8/2022)

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