Jovens voluntários da Pastoral Universitária refletem sobre o conceito de liberdade

O Centro Pastoral Universitário recebeu no dia 9 de janeiro o Professor João Paiva, docente no departamento de Química e Bioquímica da Universidade do Porto, para uma conversa centrada no valor da liberdade, um diálogo integrado num ciclo de formação desenvolvido pela Pastoral Universitária de Braga para os jovens universitários.

Com o auditório do Centro Pastoral Universitário cheio, cada um de nós foi levado a pensar sobre o sentido da liberdade, nomeadamente, sobre três distintas versões de liberdade apresentadas pelo orador: a pessoal/intimista, a do movimento coletivo e a do movimento do universo. Passo a explicar, tendo em conta a exposição apresentada pelo Prof. João Paiva: a pessoal foca-se na nossa vocação (apelo de um chamamento, espaço de encontro) e pode ser representada por uma figura de três círculos que se interligam, onde cada um deles reflete uma pergunta: o que desejo fazer?, o que o mundo precisa? e o que tenho competências para fazer? Estas questões levam a um ponto de encontro a vocação, podendo esta ser individual ou coletiva.

Por sua vez, a segunda versão da liberdade (movimento coletivo), que revela que sermos livres não é fazermos o que nos apetece, é um jogo entre a minha liberdade e a do outro. João Paiva destacou que o outro é o nosso espelho, ele vê-nos como nós não nos vemos. Nesta segunda perspetiva da liberdade, devemos perceber que nós somos uma tríade – natureza, liberdade e inculturação – e que para vermos o que nos rodeia «temos de ver sempre com estes três óculos, quando vemos só com um vemos mal».

Por fim, a terceira perspetiva da liberdade (movimento do universo) relaciona-se com a ciência (dar pistas sobre o modo de funcionamento do mundo). A junção da liberdade do cosmo e do ser humano dá «um ingrediente interessante», porque nós temos de friccionar (nascer, fazer nascer, fazer morrer e morrer), pois somos ser finitos. Deus apresenta-se como a transcendência que controla o mundo, mas levantam-se algumas questões: terá Este «arriscado a liberdade do pulsar do cosmos?» e a nossa liberdade?

Perante estas palavras desafiadoras, não faltaram perguntas de vários universitários e que foram reforçadas pelas palavras do orador, quando referiu que «é a pergunta que nos move».

Esta sessão foi bastante apelativa e de interesses que vão além de uma visão científica. Aprendemos sobre o conceito intrínseco da liberdade e levou-nos a pensar em gestos simples que podem estar a infringir a liberdade do outro. Por exemplo, conversar com a pessoa ao lado durante uma palestra, convoca três liberdades: a do outro que quer ouvir a palestra, a das outras pessoas na sala que também querem ouvir e a do orador que quer ser ouvido. Mas poderia apresentar muitos outros exemplos que caraterizam a forma como pensamos a liberdade, a exercemos na nossa vida e o impacto que tem na vida dos que nos rodeiam.

Finalizado este encontro, há frases que levamos na memória: «Convocar a liberdade do outro para a minha liberdade é a real liberdade»; «Só sou realmente livre se os outros forem livres comigo» e «Sermos livres é ter um ato de fé», expressões que traduzem a riqueza da palavra e da nossa formação pessoal.

Este encontro, dinamizado pela Pastoral Universitária, espelha a importância da realização de momentos de diálogo e de reflexão, pois providenciam aos jovens universitários inputs de aprendizagem, sabedoria e cultura que depois devem ser partilhados com o outro. Para além disso, coloca-nos em contacto com jovens de outros cursos, de diferentes realidades e áreas de saber. A nossa formação pessoal reflete a diversidade destes momentos na nossa vida, aprender é muito mais do que estudar e ser realizados profissionalmente.

Termino esta partilha, citando o professor João Paiva com uma expressão que me ficou na memória: «Sermos absolutamente nada é tudo o que podemos ser»!


Ana Beatriz Alves, Mestrado em Psicologia Clínica na Infância e Adolescência, UMinho

In Diário do Minho (22.01.23)


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