«É necessária uma Igreja que escute os jovens»
O mundo hodierno não é o mesmo de há trinta ou até mesmo vinte anos atrás, tudo tem mudado a uma velocidade alucinante e as estruturas socias são forçadas a adaptarem-se sob pena de ficarem para trás ou, como tem acontecido com a Igreja Católica, perderem fiéis, sobretudo os mais jovens.
Estes, como o professor Alexandre referiu, têm uma aversão a estruturas rígidas, como é o caso da Igreja. A solução para esta problemática é profundamente difícil e intimidante, mas extremamente necessária: ouvir os jovens e as suas perguntas difíceis. Levá-los a sério, não só a eles, mas às suas inquietações, medos e preocupações. O medo do futuro, o medo da morte, o vácuo existencial e o profundo vazio espiritual são alguns dos fantasmas que os atormentam.
A Igreja tem de ser um farol de segurança e não um inquisidor de opções de vida, para que assim possa haver uma aproximação a Deus.
A imagem de uma igreja de sofrimento, de martírio, de julgamento, de discriminação quanto a vários assuntos, como a orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, é uma imagem que vai contra o que os jovens, presente e futuro da Igreja, necessitam, que é o acolhimento. Acolher como Jesus acolheu os marginalizados do seu tempo: os leprosos, a mulher adúltera, o cobrador de impostos. A todos eles Jesus escutou, uma necessidade básica do ser humano: ser ouvido, sentir-se visto e valorizado. Os jovens sentem falta disso na Igreja, dessa escuta, de se ser aceite tal e qual como se é, com o amor incondicional que Deus nos tem.
Na vida, em geral, não é fácil encontrar alguém em quem possamos verdadeiramente confiar e estamos constantemente a gerir o que podemos dizer e o que devemos guardar para nós.
Muitas lágrimas engolidas e guardadas no coração, que se transformam em verdadeiros monstros que nos matam de dentro para fora. É preciso destruí-los através da partilha segura, e a Igreja tem de se mostrar como um lugar seguro e de acolhimento, ao qual os jovens podem recorrer sempre que precisarem.
É esta a Igreja que queremos construir e, para isso, temos de dar verdadeiramente voz aos jovens e permitir que sejam parte ativa da mudança, tal e qual como são. Foi um encontro que nos inquietou e que nos levou a refletir sobre o nosso lugar na Igreja.
Marta Moreira, Licenciatura em Psicologia, UMinho
In Diário do Minho (19.05.2023)
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