«É necessária uma Igreja que escute os jovens»

Foi pela voz do professor de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, Alexandre Freire Duarte, o orador do mais recente encontro promovido pela Pastoral Universitária, que teve lugar na passada segunda-feira (dia 15 de maio), que nos chega um apelo mais do que necessário para a Igreja dos dias de hoje: «Escutem os jovens».

O mundo hodierno não é o mesmo de há trinta ou até mesmo vinte anos atrás, tudo tem mudado a uma velocidade alucinante e as estruturas socias são forçadas a adaptarem-se sob pena de ficarem para trás ou, como tem acontecido com a Igreja Católica, perderem fiéis, sobretudo os mais jovens.

Estes, como o professor Alexandre referiu, têm uma aversão a estruturas rígidas, como é o caso da Igreja. A solução para esta problemática é profundamente difícil e intimidante, mas extremamente necessária: ouvir os jovens e as suas perguntas difíceis. Levá-los a sério, não só a eles, mas às suas inquietações, medos e preocupações. O medo do futuro, o medo da morte, o vácuo existencial e o profundo vazio espiritual são alguns dos fantasmas que os atormentam.

A Igreja tem de ser um farol de segurança e não um inquisidor de opções de vida, para que assim possa haver uma aproximação a Deus. 

A imagem de uma igreja de sofrimento, de martírio, de julgamento, de discriminação quanto a vários assuntos, como a orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, é uma imagem que vai contra o que os jovens, presente e futuro da Igreja, necessitam, que é o acolhimento. Acolher como Jesus acolheu os marginalizados do seu tempo: os leprosos, a mulher adúltera, o cobrador de impostos. A todos eles Jesus escutou, uma necessidade básica do ser humano: ser ouvido, sentir-se visto e valorizado. Os jovens sentem falta disso na Igreja, dessa escuta, de se ser aceite tal e qual como se é, com o amor incondicional que Deus nos tem.

Na vida, em geral, não é fácil encontrar alguém em quem possamos verdadeiramente confiar e estamos constantemente a gerir o que podemos dizer e o que devemos guardar para nós.

Muitas lágrimas engolidas e guardadas no coração, que se transformam em verdadeiros monstros que nos matam de dentro para fora. É preciso destruí-los através da partilha segura, e a Igreja tem de se mostrar como um lugar seguro e de acolhimento, ao qual os jovens podem recorrer sempre que precisarem.

É esta a Igreja que queremos construir e, para isso, temos de dar verdadeiramente voz aos jovens e permitir que sejam parte ativa da mudança, tal e qual como são. Foi um encontro que nos inquietou e que nos levou a refletir sobre o nosso lugar na Igreja. 

Marta Moreira, Licenciatura em Psicologia, UMinho

 In Diário do Minho (19.05.2023)


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