Reviver a JMJLisboa 2023: testemunho de um jovem universitário

Passado um mês da Jornada Mundial da Juventude, partilharemos, ao longo desta semana, o testemunho de alguns jovens universitários que viveram a JMJ, em Lisboa, no passado mês de agosto, inseridos no grupo da Pastoral Universitária de Braga.


É dia 1 de agosto. O som do alarme despertou-me para a realidade: são 6h da manhã. Levanto-me e preparo-me para a jornada da minha vida juntamente com outros jovens que se juntaram num grupo de universitários preparado pela Pastoral Universitária. Pouco passava das 7h quando partimos da cidade dos Arcebispos rumo à Capital, ansiosos pela semana que nos aguardava. A emoção era comum a todos.

Após uma única paragem na viagem até Lisboa, chegamos a Sacavém mais concretamente à EB Bartolomeu Dias, local que iria ser o nosso dormitório nos próximos dias. Avizinhava-se uma semana atribulada, mas cheia de alegria e com vontade de ser vivida ao máximo. 

Logo no percurso de ida para a cerimónia de abertura, que se realizou no Parque Eduardo VII, local batizado com o nome Colina do Encontro, fomos engolidos pela multidão que se aproximava do mesmo local para o mesmo evento, cheguei a ouvir quatro línguas diferentes ao mesmo tempo e uma infinidade de bandeiras mostrava que Lisboa era verdadeiramente a casa do mundo durante essa semana. Surreal. Foi a única palavra que me veio à cabeça no momento e continua a ser a única que me vem à cabeça agora. 

É inexplicável o que se sente rodeada por jovens de todo o mundo unidos pela mesma Fé e seguidores do mesmo Jesus. Destaco a oração de Taizé, que vivemos no mesmo dia que o da Via-Sacra, foi um dia marcado pela introspeção, pela oração, pelo silêncio. Senti-me em paz em cada um desses momentos, uma paz interior que parecia não ter fundo. Um sentimento que só se encontra quando se vive o presente de uma maneira completamente focada no essencial, sem medo do futuro, como tantas vezes referiu o Santo Padre. Muitos desses sentimentos traduziram-se em lágrimas que me iam rolando pela face sem medo, sem vergonha, pois acredito piamente não se tratar de uma fraqueza, mas sim de um sinal de humanidade, como pude constatar através das lágrimas que rolavam nas faces de outros jovens de todo o mundo após a vivência da Via Sacra. Testemunhos marcantes nos quais nos vemos refletidos. Quão egoísta é pensar que somos os únicos a passar por determinados problemas, a ter ansiedade, a ter medos que nos inquietam, diria que a JMJ me tornou uma pessoa menos egoísta nesse sentido, ao constatar que certas palavras do Santo Padre tocavam milhares de jovens com dilemas bastante semelhantes aos meus. Na maior das honestidades, até foi reconfortante constatar essa realidade. É o tipo de tomada de consciência que nos dá alento e força para continuar a nossa caminhada, a nossa peregrinação. 

Estas são as memórias que me ficam gravadas na mente e especialmente no coração, memórias que, com toda a certeza que os meus dezanove anos me dão, levarei para toda a vida. As multidões, as palavras do Papa Francisco, as filas para tudo, o jantar à porta da telepizza com um grupo de polacos, a app da JMJ que nos enganou com a existência do restaurante “El comandante” que aparentemente não existia, as reflexões ao final de cada dia com o meu grupo, a contagem matinal - faltava sempre alguém do grupo -, o Uber às 5h da manhã para ir ao encontro do Papa Francisco com os universitários, na Universidade Católica Portuguesa, os ajuntamentos de jovens com música e dança na noite da vigília, no Parque Tejo, com jovens de diferentes nacionalidades…tantas experiências diferentes vividas, tantas emoções desconhecidas experimentadas!

Num mundo que nos força a ter pressa, a não respirar, a não parar para refletir no que se passa à nossa volta, as jornadas foram um regressar à tona da água e respirar bem fundo, sentir os nossos pulmões a encherem-se de ar, sentir a nossa alma a encher-se de fé. 

Uma das mensagens mais fortes do Papa Francisco foi a de fugirmos de respostas fáceis para os grandes problemas da igreja e da sociedade, para nos afastarmos do que nos promete felicidade instantânea e nos cria vazios cada vez maiores e mais profundos. Aprendi tudo isto nestas jornadas e posso garantir que cada momento vivido valeu a pena, que tudo foi vivido como uma chama que ardia sem cessar no mais profundo do meu ser e que me incitava a continuar como peregrina movida pela fé, abraçada pela multidão com um propósito bem definido e com as palavras do Papa Francisco a ecoarem a cada passo dado: “Não tenham medo”.

Marta Moreira, Psicologia, UMinho

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