PROJETO ICHTUS I Uma missão para a vida


O Projeto Icthus é mais um dos desafios lançados pela Pastoral Universitária de Braga aos jovens universitários. No ano académico que terminou, um grupo de nove pessoas deu vida a um novo projeto, com uma identidade ainda por definir, numa região enigmática.

Partimos no dia 23 de julho, expectantes pelo que nos aguardava nestes países longínquos, mas convictos do que nos movia, com um espírito de abertura e de fé na nossa missão.

Após um ano de caminhada espiritual e de aprofundamento da vida de Cristo, chegamos ao nosso destino: Belém. Sentimo-nos em casa, com a receção calorosa da Irmã Rosa, da Congregação Filhas de Maria Santíssima do Horto, que, conjuntamente com mais duas Irmãs, nos acolheu de braços abertos, num verdadeiro sentido maternal de quem nos acolhe com amor na sua casa: Hortus Conclusus, um Santuário construído sobre a colina diante do vilarejo de Artas, nas imediações de Belém, na Palestina. Rodeado por um deserto árido, entre colinas de casas e estradas íngremes, Hortus Conclusus é um oásis de verdura, com a sua horta rica e tratada com o maior dos carinhos pelas Irmãs e por dois senhores que zelosamente trabalham na casa. Estas pessoas enriqueceram a nossa experiência de forma marcante, com os seus ensinamentos e partilhas, que irão perdurar nos nossos corações para toda a nossa vida.

Neste espaço verdejante, que foi a nossa casa ao longo de três semanas de missão, tivemos a oportunidade de viver uma experiência de fé e comunidade, nos trabalhos que fizemos na casa, mas também pelos caminhos da vida de Jesus que calcorreamos, dia após dia, numa proximidade excecional com a fé. Foi uma caminhada profunda, um encontro quase face a face com a Sagrada Família e com a Paixão de Cristo, quase palpável e sentida como se acontecesse naquele momento. Em cada local visitado em Belém e Jerusalém, sentimos cada momento de forma única, cada um à sua maneira, em oração e reflexão individual ou em grupo. A Terra Santa tem um ambiente próprio, uma característica totalmente distinta do resto do mundo. Vive-se em comunhão com outras religiões, outras culturas, outras línguas, aparentemente indecifráveis. Mas, em muito do que vivemos, a linguagem era comum. Por entre orações e cânticos muçulmanos, judaicos e cristãos, todos nos entendíamos. Como foi dito por diferentes vozes, todos rezamos ao mesmo Deus, pedindo-Lhe os dons da sabedoria, do entendimento e da verdade. Respira-se um bom ar, apesar do encontro, aparentemente difícil, de tantas culturas e religiões.

Neste contexto profuso em narrativas de várias sensibilidades, não se pode ignorar o clima de tensão que se experimenta e vive no dia-a-dia, mas não foi este o centro da nossa vivência na Terra Santa. Foi possível viver em comunhão com todos, como irmãos da mesma Humanidade, todos filhos de Deus, independentemente da língua em que cada um rezava.

Como cristãos apercebemo-nos quão poucos somos na Terra Santa. Pessoalmente, marcou-me a missa diária, a única Eucaristia na terra que nos recebeu, com a presença de apenas dez pessoas e presidida pelo Pe. Eduardo Duque. O que tomamos como garantido na nossa comunidade em Portugal, não é fácil de se viver onde estivemos estas semanas. Deu que pensar!


Com este sentimento, entendemos como foi importante a nossa missão. Cantamos em plenos pulmões, com a alegria de celebrar a nossa fé na terra onde tudo começou. E com esta festa, enchemos a Terra Santa com as nossas vozes, em conjunto com os nossos irmãos de outras religiões. Foi esta a grande experiência da nossa missão, da minha missão!

O ICTHUS fez-nos absorver um conjunto de sentimentos demasiado vastos para descrever num só texto. Damos por nós sem saber o que dizer! Partimos com o coração cheio da nossa Terra Mãe, com a esperança que o nosso dia-a-dia abarque tudo o que a missão nos ofereceu.
 
Não poderia ter sido de outra forma. O trabalho físico no campo, na horta, na escola, no monte, no ambulatório, o trabalho espiritual na fé e na aprendizagem cultural e religiosa, com as visitas a locais sagrados, com as Irmãs, e os seus sábios ensinamentos, convergiram num só sentido, no de voltarmos mais ricos e mais conscientes do mundo em que vivemos, mais conscientes da nossa fé e no nosso lugar na Humanidade.

Aqui, de volta às nossas vidas, o ICTHUS continua a sua missão. Cabe-nos a nós partilhar com todos os que se cruzam connosco o que vivemos e a realidade que tivemos a oportunidade de conhecer. O
ICTHUS vive para além daquelas três semanas intensas. Vive nos nossos corações, nas nossas palavras e nas nossas ações. E que assim continue.

Ângela Teles | Professora de Música e Coordenadora, no ano 2019, do Projeto ICTHUS

In Diário do Minho

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