«Afinal que modelos buscam os jovens para as suas vidas?»


Presenciei algo que considero bonito e, ao mesmo tempo, raro. Sei que raro é uma palavra forte, mas é precisamente pela força da palavra que a utilizo neste contexto. 

Mas do que estarei a falar? Jovens. Jovens interrogados pela beleza da vida. O que é ser jovem? O que é ser jovem cristão? 

Na tertúlia desenvolvida pela Pastoral Universitária no dia 17 de fevereiro, houve lugar a muita reflexão sobre um tema que nunca deveria sair da ordem do dia, os modelos seguidos pelos jovens.

Não podemos negar a importância deste assunto. Todos os dias, os nossos jovens, e permitam-me inserir a mim próprio neste grupo, lidam com situações delicadas que envolvem uma capacidade de discernimento e capacidade seletiva que, se calhar, atualmente não a conseguimos nutrir no nosso dia a dia. 

Ser jovem não é fácil e isso é uma realidade. As tentações são uma constante diária, obstáculos para ultrapassar, perspetivas fracas, falta de objetivos e projetos de vida que acolhemos, mas que por vezes não são verdadeiramente nossos.

Isto de facto parece uma tela pintada a negro. Mas estarei errado ao afirmar que perceber as coisas por este prisma será o melhor caminho? Pois vejamos, é precisamente a consciência de que as coisas estão “negras” que nos fazem palmilhar por uma réstia de luz, que nos fazem almejar por uma diferença, que nos fazem trabalhar para clarear o nosso caminho.

No fundo, a maneira como vemos as coisas não será o mais importante, quero com isto dizer que o importante é a nossa capacidade de questionar, de fugir ao conformismo e à apatia societária, é ter consciência do dever de ir mais fundo numa tentativa de discernir aquilo que nos vemos a consumir como rotina.  Foi precisamente isto que aconteceu, com a presença do Pe. Doutor José Lopes, no passado dia 17, no Centro Pastoral Universitário (CPU), nos presenteou com uma partilha de experiências de vida e como uma reflexão profunda sobre as nossas motivações e modos de vida. 

A atividade consistiu na discussão de duas questões que de simples nada tinham. Pretendia-se, então, questionar a natureza dos jovens. Mas, afinal, é ou não capaz de discernir sobre os modelos, quer sejam sociais, económicos ou morais que segue? E a certa altura em que é que de facto a proposta de uma vida cristã contrasta com a vida de um jovem?

Não me  compete  a mim dar as repostas a estas questões, e, bem vistas as coisas, é provável que também não tenham sido respondidas na atividade. Foram, no entanto, levantadas à discussão, criou-se o espírito crítico e reflexivo ao qual se fez referência, e, ao fim ao cabo, colocar essas questões permitiu inquietar os jovens. Reconheçamos que vivemos numa era de facilitismos e, por isso, temos algo com que trabalhar. Consumimos diariamente uma quantidade incomensurável de informação e acabamos por esquecer que partilhamos o mundo com o outro. Talvez a minha opinião sobre determinado assunto derive de um mero “post” de Facebook.

Estará a minha opinião inquinada? Será verdadeiramente a minha opinião? E, no entanto, teremos nos nossos atos o reflexo dessa mesma opinião.

O Pe. José Lopes chega um pouco mais longe. Serei eu livre? Serei capaz de reconhecer a liberdade? A questão prende-se no viver da melhor forma a nossa vida, no dar sentido a esta passagem que se sabe curta e breve. E isto, desenganem-se, só se consegue na partilha com o outro, através da capacidade de discernimento do que cada um pretende para si mesmo, que por sua vez terá impacto nos restantes indivíduos. 

No fim, fica a certeza de que sei que muitos não concordarão com estas palavras. E ainda bem! Já viram o aborrecimento que seria se todos tivessem a mesma opinião? Mas, se podemos discordar, também podemos chegar a consensos. E o consensual é que mais de meia centena de jovens saiu deste encontro seguramente mais rico. 

Guilherme Guedes,
1.º ano Mestrado em Direito da União Europeia, UMinho



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