Experiência de um Residente no CPU
A entrada para o primeiro ano da universidade é, muitas vezes, acompanhada por um ritual que se prende com a escolha de um lugar que servirá de "casa" ao longo desse período. A tudo isto, acresce ainda a forte ansiedade que nos atravessa por ficarmos longe da nossa casa pela primeira vez.
No meu caso, a primeira vez que ouvi falar no Centro Pastoral Universitário (CPU) foi através de um amigo meu, que me disse que iria lá viver. A minha mãe entrou em contacto para saber se ainda havia vagas. Apesar da minha relutância em visitar o espaço, por se tratar de uma residência associada à Igreja, acabei por visitar a Casa devido à falta de alternativas, e mais tarde, ser aceite como residente.
Este é já o meu segundo ano na residência do CPU. Desde o primeiro dia em que entrei para esta “casa” até aos dias de hoje, notei que em mim tinha acontecido uma grande transformação. Desde muito cedo, nunca me senti encaixado em lado nenhum, pois sempre me senti diferente dos outros, acabando por me envolver quase sempre numa grande solidão, quase existencial. Sentia que ninguém me entendia ou era verdadeiramente meu amigo, com algumas exceções, é claro. Senti-me, muitas vezes, só e humilhado. Estes foram, talvez, os sentimentos que mais me marcaram ao longo destes 18 anos de vida. Para fugir a isso, acabei por usar os estudos, o mundo da fantasia e a internet para escapar à realidade penosa em que sentia que vivia. Aos 18 anos de idade, a única coisa que me deixava verdadeiramente alegre quase que se resumia a jogar no computador. Posso dizer que a meio do meu primeiro ano de universitário, cheguei ao fundo do poço, senti uma solidão que nunca tinha conhecido.
Embora isto tivesse continuado após a entrada na universidade, aos poucos sentia que algo ia mudando. Comecei a perceber que as pessoas com quem partilhava a mesma casa estavam a salvar-me. Ao contrário das pessoas com quem tinha convivido até então na minha adolescência. Senti que me aceitaram como era, me acolheram com as minhas próprias características e ajudaram-me a ultrapassar as dificuldades. Lentamente, o meu coração, partido e congelado, foi aquecendo e recuperando, foi começando a sentir o poder do amor ao próximo ao irmão.
Não sei o que chamar a isto. Talvez para uns, seja o poder da amizade, para outros, o poder do Espírito Santo. Só sei que, lentamente, comecei a largar os jogos online e fui novamente recuperando a alegria e a vontade de viver. Na verdade, já não me sentia sozinho.
Neste novo ano, comecei a entrar nas atividades da casa, como por exemplo, comecei a ir novamente à missa, coisa que já não fazia há anos. Sou uma pessoa racional, acreditar em algo como Deus sempre me pareceu algo saído do filme Matrix, como se fosse uma personagem de computador. Neste momento, acredito novamente em Deus, mas sei que Ele não tem a pretensão de me controlar na vida, mas somente de me acompanhar, como um pai, que quer que nós vivamos da melhor forma possível e que, se os nossos sonhos forem dignos, estará ao nosso lado e ajudar-nos-á a chegar a esse objetivo.
Tentar descrever como foi a minha experiência é algo que não consigo medir, mas se tivesse que dar uma palavra, seria mágica. Ainda há coisas que preciso de melhorar. Acredito, no entanto, que irei continuar a evoluir, a fazer caminho, nesta que foi e é a minha segunda casa. Para aqueles que lerem as minhas palavras e se sentirem como eu me sentia no passado, não se aflijam. No futuro, Deus irá dar-vos a conhecer pessoas boas, pois como dizia um homem carinhoso para uma menina triste, assustada e só: "Ninguém neste mundo nasce para ficar sozinho".
João Silva
Aluno do 2º ano de Bioquímica da UMinho
In Voz de Esperança
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