Pastoral Universitária coloca em debate implicações da intenção na consequência
Em primeiro lugar quero pedir desculpa ao leitor em nome de todos aqueles que se apropriam de questões filosóficas esgotantes, como esta que vou apresentar agora, para servirem a sua própria escrita, não o fazemos com má intenção (se é que isso alivia de algum modo a moralidade do ato). É um facto que toda a intenção gera um ato e que todo o ato gera consequência(s). A grande problemática é se o ato deverá ser avaliado pela intenção que o motivou ou, se pelo contrário, deverá ser avaliado pelas consequências que provocou.
Imaginem o seguinte cenário: uma idosa carrega nas suas mãos débeis sacos pesadíssimos, que a puxam no sentido contrário ao seu movimento e que a atrasam para apanhar o autocarro. Um jovem corpulento dirige-se na direção da velha senhora e pega-lhe nos sacos, não tão pesados na sua perspetiva, e carrega-os até ao autocarro. Se o que motivou o jovem foi o sentido do puro dever ou, se pelo contrário, foi para impressionar as jovens estudantes que esperavam na paragem de autocarro, isso não sabemos, o que sabemos é que a velha senhora foi muito mais leve para casa, não só pelo facto de o jovem carregar os seus sacos, mas por saber que existem pessoas que não se esquecem da sua condição e que a ajudam.
A questão a que me proponho responder com base nesta história meramente metafórica é a seguinte: para a reconstrução de uma nova fé cristã o que pesará mais a longo prazo a intenção ou a consequência dos nossos atos?
Para tentar responder a esta pergunta tenho de resgatar as palavras do Padre e Professor Costa Pinto que, na primeira sessão do ciclo de tertúlias que decorreu na passada 2.ª feira, no Centro Pastoral Universitário (CPU), orientou a sua exposição de forma sábia e apaixonante em resposta a três perguntas lançadas aos jovens universitários sobre o relativismo da cultura moderna e quais os valores que, afinal, nos fazem felizes nos tempos atuais.
De forma clara e profunda, o Pe. Costa Pinto apresentou e definiu os traços mais distintivos da cultura atual, os quais me orientaram de forma inequívoca para encontrar resposta para o desafio a que me propus nesta reflexão.
Vivemos numa sociedade intimista, em que o Eu é o centro de toda as nossas prioridades, a ideia de que não existe outra realidade para além da realidade do sujeito. Vivemos no mediatismo e somos imediatos, a velocidade deixa de ser uma dimensão exclusivamente física e passa a ser uma dimensão antropológica. Vivemos à nossa medida, deturpando e moldando tudo para satisfazer a nossa conveniência. Estabelecemos relações superficiais com tudo e todos os que nos rodeiam. Então a questão prevalece. Provavelmente (sem querer generalizar) o jovem foi motivado por estes valores atuais e simplesmente ajudou a pobre velhota para poder impressionar as jovens estudantes. O cenário em que este estudante em particular ajuda alguém, atrevo-me a dizer, será único, pois intenções como esta não nos fazem contrariar o comodismo e a letargia que nos caracterizam. Neste sentido, e em resposta ao meu desafio, consequências boas precisam necessariamente de boas intenções, caso contrário estas boas consequências serão meras pontualidades ocasionais no mundo em que vivemos.
Como jovens cristãos, e sendo membros vivos da Igreja que, citando o Pe. Costa Pinto, assenta na verdade do coração, não devemos interpretar estas palavras como puritanismo exacerbado, mas sim como forma de orientação para o desafio, que o Papa Francisco tanto anuncia, que é o de renovar a fé cristã, tendo como meta o Outro. Não devemos deixar que questões de moralidade nos distraiam daquilo que é o mais importante que é AJUDAR: ser próximo do outro, hospitaleiro e acolhedor. Sem dúvida que as palavras que tive oportunidade de ouvir do Padre e Professor Costa Pinto tornaram mais claro o caminho que devo percorrer. Espero que estas palavras tenham o mesmo efeito entre aqueles que refletem neste texto.
Raquel Madureira
In Diário do Minho
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