Uma reflexão espiritual sobre o (des)confinamento


Passaram três meses desde que nos foi pedido que parássemos.

Ainda hoje, no silêncio da noite, reflito sobre tudo o que vivemos e o que ainda temos por viver devido a este vírus invisível que teima em não desaparecer. Foram tempos de desapego, de solidão, de medo, de ansiedade e de muita reflexão. Em todas as casas, o trabalho, a escola, as reuniões familiares, os jantares com o grupo de amigos passaram a ser realizados na divisão de um ecrã. Apesar deste entrave físico, a frequência com que se passou a efetuar estas ligações passou a ser maior, deixou de haver desculpas como a falta de tempo ou de transporte. E foi através destes pequenos momentos que me apercebi que o mundo estava realmente a mudar.

Há quem afirme que o mundo jamais será igual e quero acreditar que isto se tornará numa verdade, na medida em que as pessoas jamais olharão uns para os outros como um meio para alcançar um fim. A mudança parte também da forma como vivemos a nossa fé. Durante o confinamento, muitos foram os crentes que elevaram as mãos ao céu perguntando "Porquê, meu Deus?". Agora, mais do que nunca, percebo a resposta à minha questão, "Porque estávamos a precisar". O ser humano tem perdido o verdadeiro sentido da vida e, por vezes, esquecemo-nos do quão gratos somos por ter saúde, uma família, comida e um teto onde viver.

Neste processo, percebemos que até a dimensão da Fé teve de ser alimentada através de outros meios. Na verdade, a Fé é uma relação dual e, como tal, precisa de ser constantemente alimentada, por encontros, orações e dúvidas. A Pastoral Universitária foi, para mim e para tantos outros jovens, o combustível para que a chama não se apagasse. Ao longo das semanas foi partilhando testemunhos de jovens durante o período de confinamento que me fizeram crer que estamos juntos nesta batalha e que muito daquilo que sentia era comum em tantas outras casas e partilhado por tantos jovens.

Durante o mês de maio, a Pastoral criou um calendário, no qual, ofereceu diferentes encontros virtuais para todos aqueles que se quisessem manter ligados. A segunda-feira era reservada para o "Terço em rede", onde os jovens se juntam para rezar em família; à quarta-feira foi dinamizado um momento de silêncio, "O silêncio das Quartas”, momento que tive o privilégio de orientar e que surgiu com o intuito de criar momentos de oração nas casas daqueles que nos assistem. Foram momentos de introspeção sobre diferentes conceitos com que somos diariamente confrontados, mas adaptados aos tempos de pandemia: a arte, o sentimento da perda, a solidão e a gratidão. Ao fim de semana tinha lugar a rubrica "Nunca mais é sábado”, que nos fazia ansiar por estas conversas com diferentes convidados, semana após semana.

O junho veio trazer alguma normalidade às nossas vidas, a possível para já, através do desconfinamento. No entanto, não nos podemos esquecer das nossas prioridades e aprendizagens durante todo este tempo. Por isso, desta vez a Pastoral Universitária propôs uma oração diária, de "2 minutos de pausa", um podcast com 30 orações diferentes, propostas por 30 jovens, para que continuemos a refletir sobre o sentido da vida e aquilo que nos motiva a querer seguir em frente e marcar a diferença.

Para mim, a palavra Pastoral significa guia espiritual para as comunidades e tem como missão a evangelização cristã. A Pastoral Universitária tem assumido, incansavelmente, este papel na minha vida, sendo casa, abrigo e resposta a muitas das minhas necessidades nesta minha caminhada de fé, enquanto jovem universitária. E o seu papel, ao longo destes meses, foi essencial para manter os jovens unidos no trabalho e nos valores em que acreditam. Bem-haja!

Maria Amorim | 3º ano Curso de Psicologia (UMinho)

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