Pastoral Universitária promove diálogo intercultural sobre juventude


A manhã de 14 de novembro, sábado, foi reservada para uma conversa entre universitários sobre a importância da Juventude no processo de transformação da sociedade, evento marcado no âmbito da celebração do Dia Nacional da Juventude em Timor.

Foi um encontro intercultural que uniu virtualmente mais de 30 jovens universitários, provenientes de diferentes culturas e realidades académicas. Universitários portugueses, timorenses e guineenses de Braga, Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e até da Indonésia juntaram-se para uma reflexão sobre o papel dos jovens na sociedade, independentemente da sua proveniência.

Este encontro on-line marcou o início do plano de atividades do projeto “Encontro de Culturas”, desenvolvido pela Pastoral Universitária de Braga. Um projeto que pretende dar voz às diferenças que coexistem em ambiente académico, proporcionando, assim, espaços de diálogo e de encontro intercultural. Este projeto conta com a coordenação de uma equipa de jovens universitários de Timor-Leste, Guiné-Bissau e Portugal.

A sessão teve início com as palavras do Diretor da Pastoral Universitária de Braga, Pe. Eduardo Duque, que transmitiu aos universitários uma mensagem de comunhão entre os povos, mostrando que a língua e a cultura são o elo de ligação dos países lusófonos e que a Pastoral Universitária pretende dar voz a esta diversidade que existe nas nossas academias de Braga. Tivemos ainda o privilégio de contar com a presença e intervenção  da Embaixadora de Timor-Leste em Portugal, a Dr.ª Isabel Guterres, que, para além de nos agraciar com uma breve contextualização sobre o Massacre de Santa Cruz do dia 12 de novembro de 1991 – acontecimento que deu origem ao feriado do Dia Nacional da Juventude em Timor – ofereceu, juntamente com a intervenção do Adido de Educação de Timor, Dr. Natalino Soares, uma visão atual da situação dos jovens timorenses, que buscam oportunidades de educação fora do seu País.

A segunda parte do encontro contou com o testemunho de três jovens universitários: o timorense Osório Ximenes, franciscano e mestre em Teologia e Filosofia pela UCP Braga; o guineense Sumaila Jaló, um ativista e professor do ensino secundário em Bissau, e o português André Cardoso, aluno de Mestrado em Direito Administrativo na UCP Porto.

Várias foram as questões colocadas a estes jovens que deixaram a descoberto as diferenças e as  semelhanças entre os jovens nas diferentes culturas. Ao contrário de Timor e da Guiné-Bissau, a juventude portuguesa tem, para André Cardoso, a felicidade de contar com um acesso mais vasto a informação e oportunidades, mas nem sempre está desperta e motivada para agir, uma visão que o mesmo comprovou na missão que realizou em 2018 na Guiné-Bissau, através do Projeto Sementes. Quanto à participação na sociedade civil, Sumaila Jaló realçou o facto dos jovens guineenses estarem mais preocupados em reivindicar os seus direitos e muitas vezes esquecerem-se dos seus deveres, visão partilhada pelos demais jovens intervenientes.

A Educação, bandeira do desenvolvimento de um país e elemento decisivo na vida dos jovens, foi um dos temas centrais desta conversa, que uniu os oradores na certeza de que o sistema educativo em cada país necessita de uma urgente reformulação, de um modo especial a necessidade de adaptação dos materiais pedagógicos à realidade de Timor-Leste e Guiné-Bissau.

Despoletado pela intervenção de um jovem guineense, defendeu-se a importância do ensino da língua portuguesa desde o primeiro ciclo escolar na Guiné-Bissau e em Timor-Leste, pois, para além de esta ser uma das línguas oficiais dos dois países, representa um valor estratégico substancial na comunidade internacional, nomeadamente, no âmbito da CPLP.

Ainda sobre a educação, outros obstáculos evidenciados, principalmente por Timor-Leste e pela Guiné-Bissau, foram as altas taxas de analfabetismo e desemprego jovem a que se assiste nestes países. Para colmatar estas fragilidades, preconizou-se a necessidade de se desenvolver políticas públicas de maior investimento na Educação e de um maior apoio aos jovens nas iniciativas de empreendedorismo.

Estas foram apenas algumas das principais ideais partilhadas pelos três universitários oradores que, no final da sua intervenção, deixaram aos jovens do seu país uma mensagem de esperança e resiliência, incentivando-os a lutar por oportunidades de crescimento e desenvolvimento, a lutar para que as suas vozes sejam ouvidas e convidando-os a assumir um papel de protagonistas na mudança.

Na fase final do encontro, fomos agraciados com a interpretação da música “Timor”, dos Trovante, protagonizada por um grupo de jovens timorenses que fecharam de uma forma simbólica este encontro de culturas.

Este encontro traduziu-se num excelente momento de aprendizagem e reflexão, que ressalvou a importância da construção de pontes entre as diversas culturas e da importância de se dar voz aos jovens nesta missão de união.

Marta Mendes,
Curso Administração Pública Universidade do Minho

In Diário do Minho

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