PROJETO SEMENTES'22 | DIÁRIO DE MISSÃO 2
Assim como as ruas, também as pessoas são belas. Fomos bem recebidos e acolhidos pelos habitantes de Cumura que demonstraram muita alegria por termos chegado. Vínhamos com o espírito de dar, mas igualmente de receber e, desde o primeiro contacto com a comunidade, que isto se tem vindo a manifestar. O Frei António teve um papel fundamental na nossa adaptação, mostrando-se sempre disponível para nos orientar, juntamente com as Irmãs Franciscanas Missionárias que desde o início demonstraram preocupação com o nosso bem-estar.
Os primeiros dias focaram-se em conhecer a comunidade, viver as suas dinâmicas e conhecer alguns dos seus costumes. Andámos de mochila às costas a explorar os bairros de Cumura e a abordar por quem passávamos. Apesar da língua oficial ser a língua portuguesa, o crioulo guineense é o que se ouve nestas ruas e nem sempre é fácil a sua compreensão, mas acredito que ao longo das próximas semanas se torne mais acessível. Em relação aos passatempos desta cidade, diga-se que existe uma liga de futebol inter-bairros e os jogos diários durante a tarde são um momento em que a comunidade se junta no centro. As crianças brincam à volta do campo, os jovens estão motivados para ganhar, os adultos aproveitam este momento para vender o que cultivam e nós aproveitamos para nos aproximar cada vez mais do local que nos acolheu. Também, as tardes têm sido preenchidas com as gargalhadas das crianças nas atividades realizadas na escola e as vozes belas das jovens de Cumura que nos ensinaram o hino da Guiné-Bissau e nos deixaram sem palavras quando cantaram algumas músicas do Sementes que tinham aprendido com estudantes missionários de anos anteriores. As missas permitem-nos explorar a vertente mais religiosa do projeto ao participarmos no coro com outros jovens, coro que é característico pelo seu ritmo e uso do instrumento djembe, que tornam a eucarística africana mais dinâmica.
Ao quinto dia de missão, fomos auxiliar pela primeira vez o Hospital do Mal de Hansen em Cumura. Fizemos uma doação de material médico angariado durante o ano que foi muito agradecida pelos que ali trabalham. Como as nossas áreas de formação são distintas, estivemos separados a ajudar naquilo que era necessário e nos sentíamos capazes de o fazer. A insegurança foi notável, mas acredito que durante os próximos dias esta seja ultrapassada. Todos os que estiveram connosco nesta manhã mostraram-se disponíveis para nos orientar e, a partir de agora, este será um local onde iremos colaborar como voluntários.
Nestes dias, tivemos também a oportunidade de visitar a capital. Se tivéssemos de descrever Bissau numa palavra, seria mercados. Estes são infinitos pelas suas ruas e albergam uma quantidade imensurável de gente. Vendem desde roupa a alimentos e tornam a cidade num ponto de comércio muito importante para o país. Estas duas cidades guineenses, despertaram em nós curiosidade de conhecer as restantes localidades do país. Conhecermos o país onde somos missionários enriquece culturalmente o grupo.
As próximas semanas serão desafiantes. A carga emocional começa a aparecer e as saudades de casa a apertar, mas estamos confiantes e unidos para sermos missão e nos entregarmos a esta comunidade.
Laura Cainé, Medicina (UMinho)
In Diário do Minho (23/07/2022)
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