PROJETO SEMENTES'22 | DIÁRIO DE MISSÃO 3

A aventura começou. A tão esperada viagem para Cabo Verde, uma missão de autoconhecimento, de partilha e de serviço, começou para nós no dia 17 de julho. Passada já quase uma semana, a viagem em si, a do avião, e de todas as outras movimentações que nos permitiram chegar ao destino, parecem-nos menores em relação à integração plena, consciente e com entrega, na comunidade rural de Salineiro, perto de Praia, capital do arquipélago. A viagem de Portugal para Marrocos, onde fazíamos escala, foi uma viagem emotiva, de partida, com uma componente emocional muito forte, para além de ter despertado medo e receio de um elemento do grupo, que pela primeira vez viajou de avião. No entanto, desde que cá chegámos, exaustos da viagem, quase de madrugada, fomos acolhidos e recebidos com uma amigabilidade anormal, resultando em convivialidade e intercâmbio cultural.

Na verdade, sinto que, à semelhança do povo português, muitas vezes, rotulado como um povo hospitaleiro, o povo cabo-verdiano também o é. Ainda assim, compreendemos a existência de diversidade e especificidades em cada comunidade, seja ela rural ou mais urbana. O grupo, como sempre, empenhado em ultrapassar e suprir obstáculos, após cá ter chegado e sofrido em conjunto a “dor da viagem” e a saudade, quer aprofundar o conhecimento efetivo, se efetivo pode ter, da comunidade em que está integrado, preocupados em dar e receber.

Dar e receber é o mote da missão. Dar do que temos e sabemos, receber de igual forma. A verdadeira experiência de missão é a que se constrói na base da partilha e da solidariedade.

A par deste contacto ininterrupto e vivo com a comunidade, fortalecemos o grupo, dando-lhe uma vida própria. Cozinhamos as nossas comidas e lavamos a nossa roupa e colocámo-la a secar, a título de exemplo. Temos de trabalhar em conjunto, de forma organizada e ordeira, para que se consiga a vivência conjunta de forma harmoniosa, daí o estabelecimento de planos semanais com distribuição de tarefas pelos elementos do grupo. Percebemos que, sem eles, em cinco semanas se instalaria o caos. É preciso, e reitero, organização e compromisso. Cinco semanas não deixam de ser cinco semanas e, naturalmente, entendemos que irão aparecer “pedras” no caminho, vitais no nosso crescimento individual e coletivo. Lidar com baratas, mosquitos e outros insetos é uma aprendizagem. Zelando pela nossa proteção, colocando produtos anti-mosquiteiros, temos cá uma experiência de vida!

Enfim, desde o início, a missão revela-se dessa forma na forma como interagimos com os que nos rodeiam, no estabelecimento de amizades duradouras, que não abanam com o vento e na forma como nos conhecemos a nós próprios.

Nesta primeira semana na comunidade de Salineiro, já tivemos oportunidade de interagir com a comunidade, nomeadamente, as crianças, com as quais brincamos e nos divertimos, mas também com a população idosa que, pela sua iniciativa, se dirigem à escola básica para os rastreios de saúde, de prevenção e sensibilização nesta faixa etária. Para além disso, tivemos a oportunidade de visitar a comunidade em visita guiada, sendo convidados para entrar nas casas das pessoas e com elas conversar.

Estamos certos de que as próximas semanas serão igualmente surpreendentes e marcantes da nossa história de vida. 

Tiago Gonçalves | História (UMinho)

In Diário do Minho (25/07/2022)


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