PROJETO SEMENTES'22 | DIÁRIO DE MISSÃO 7
A população abre-nos as portas, para realizarmos atividade voltadas para a saúde, como aferir a pressão arterial, medir a glicemia capilar, terapia com tratamentos de feridas e realizar, no geral, o planeamento familiar, atuando na promoção e prevenção da hipertensão um dos principais fatores de saúde entre os adultos. É de ressalvar o interesse por parte da população pelas questões da saúde, visto que, frequentemente, são também as próprias pessoas que nos procuram para esclarecer dúvidas e ser por nós atendidas, algo que sentimos como bastante gratificante, porque é a comunidade a reconhecer o valor de quem está aqui unicamente para servir.
As atividades desenvolvidas com crianças e jovens são de grande aprendizagem. Didaticamente, construiu-se o corpo humano em desenho, pintando de forma artística e livre, recortando os principais órgãos e montando a estrutura do corpo, identificando o sistema neurológico, digestivo, vascular e pulmonar de maneira simplificada.
Tivemos também a oportunidade de experienciar a alegria das festas locais, que se caracterizam pela tradição, com música e danças típicas, sendo o funaná contagiante em todas as circunstâncias. Em Santana, localidade adjacente a Loura, há a tradição de comer em todas as casas por onde se passa, sendo típico comer uma pequena porção de comida em cada casa.
Nesta localidade, que fica no lado oposto da ilha, foi possível visitar o campo de concentração, local onde estiveram, na época da ditadura, vários presos políticos portugueses, e a praia do Tarrafal, uma das poucas de areia branca, na ilha de Santiago. Esta praia é extraordinária, com grande história, e caracteriza-se pelas suas águas claras e quentes e de onde se avista a bela ilha do Fogo.
Relativamente às atividades com os jovens cabo-verdianos, foi interessante a caminhada que juntos fizemos ao Monte “Tchota”.
Estava um dia de sol intenso e o caminho fazia-se através de subidas íngremes que exigiu de todos nós forças redobradas, mas, com a ajuda mútua, alcançamos o pico mais alto, pelo que valeu a pena todo o cansaço. Como recompensa foi possível contemplar a vista de quase 360° graus de toda ilha de Santiago.
Neste texto, merece também destaque a celebração da bênção dos mais velhos, ato arreigado na cultura da comunidade, que simboliza a ação de respeito e proteção por quem acumulou mais sabedoria.
O ato em si consiste num gesto de estender a mão em posição “de receber”. Os avós e os pais seguram a mão, levando-a à cabeça e dizendo, “Que o anjo da guarda, Nossa Senhora e seu filho Jesus Cristo o proteja e acompanhe”. Tal gesto impactou-nos, e fez-nos refletir sobre o respeito e amor existente entre as famílias. É percetível que, para alguns membros da comunidade, somos como membros da família, concedendo-nos esse ato de amor e carinho.
Inicialmente, viver em grupo foi também um desafio que exigiu uma normal adaptação, pois cada um tem a sua personalidade e rotinas completamente diferentes dos outros. Algo de positivo na nossa vivência é o facto de, sendo de nacionalidades distintas, ser possível conhecer melhor as culturas e as tradições portuguesas e brasileiras, resultando em boas memórias, alegrias e até mesmo relembrar a infância e traquinadas que praticámos.
Os dias em Loura são preenchidos por gratidão e alegria. É extraordinário sentir a felicidade no olhar da comunidade por estarmos a viver com eles e, apesar da falta de água, da pouca comida e das parcas condições de saúde, encontramos sempre sorrisos nos rostos das pessoas com quem convivemos.
Rickson Cristina – Erasmus Enfermagem (UMinho)
In Diário do Minho (4/08/2022)
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